Padaria Luzitana : a gostosa lembrança do século passado

Quem de Maranguape viveu a era de ouro da Padaria Luzitana e não provou da crocante, gostosinha e pequenina Bolacha Piaba que estalava nos dentes? Difícil ouvir alguém dizer que não experimentou a preferida da cidade. O preço dava no bolso de todo mundo e por isso ela estava sempre presente na mesa do café juntamente com o pão nosso de cada dia, fabricado na panificadora do português.

padaria luzi

Joaquim Frutuoso foi um “portuga” que ergueu no centro de Maranguape,  a Padaria Luzitana, localizada na Praça Dr. João Pessoa com fundos para a Praça Coronel Sombra. Um prédio com  seis portas para a Praça Dr. João Pessoa, nove portas fechadas por alvenaria olhando para a  Praça da Matriz  e uma porta central acessível  às duas praças ao mesmo tempo. O endereço era ideal para uma paradinha obrigatória, principalmente para os fieis que saíam da igreja depois da missa.

Ele chegou aqui com sua irmã e o cunhado. Instalaram o negócio , empregaram cidadãos da terra e botaram a mão na massa. Como toda panificadora, o pão era o carro chefe , mas as bolachas, biscoitos e rosquinhas salgadas eram outras opções ofertadas à clientela.

O português empreendedor que veio de longe  foi adquirindo sua estabilidade econômica  com a fabricação  de massas alimentícias. É nessa  época que bate a porta da empresa, um menino de  12 anos de idade, vindo do mesmo país europeu. Theóphilo Teixeira das Neves  consegue uma vaga na panificadora, que mais tarde se tornaria sua propriedade.

Theophilo era muito dedicado às atividades e por isso, se tornou o  empregado e amigo de confiança do patrão. Ele mantinha-se atento a tudo e não deixava ninguém desperdiçar o tempo que tinha para garantir a produtividade e qualidade do produto.

O tempo passa e o Senhor Joaquim Frutuoso, já sentindo-se cansado, com idade avançada , resolve voltar para Portugal. Escolheu Theófilo para dar continuidade ao projeto. Depois de tanta insistência, já casado com a Sra.Maria Gonzaga das Neves, resolve aceitar a proposta e bota o negócio pra frente. Theóphilo  compra  a Padaria Luzitana com todas as suas dependências, acessórios, benfeitorias, maquinário, móveis e outros pertences . “ Tudo que ganhas tens que guardar alguma coisa”, era o que repetia sempre Theóphilo. E foi assim que construiu um grande patrimônio. Se tornou um dos homens mais rico de Maranguape ,dono de muitos bens na sede, Tangueira, sítios na serra e vilas de casas em Fortaleza.

padaria luzitana

O português gostava de ajudar aos pobres e costumeiramente fazia  doações de pães para o presídio. Foi ele quem doou terreno para a Igreja de Nossa Senhora da Penha construir o prédio onde hoje funciona a secretaria da Matriz. Outro presente de grande valor histórico religioso foi a imagem de Nossa Senhora de Fátima, vinda de Portugal, que se encontra na capelinha ao lado da igreja.

O homem que gostava de leituras, bem informado, não teve filhos, mas ajudou a muitos pais de família com o seu empreendimento. Morreu em 03.05.1946 deixando  viúva a mulher Maria Gonzaga das Neves. Após seu falecimento, a Padaria Luzitana foi arrendada a um outro português, seu irmão Josué Teixeira de Abreu, que já trabalhava na panificadora.

Alcancei a administração do Sr. Josué, um homem branco, forte, de óculos com lentes graúdas, lento, calado, parecia ser tranquilo, mas trocava figurinhas com  clientes que passavam  por ali e puxavam conversa. Ficou tão conhecido na cidade que o povo só fazia referência à Padaria Luzitana como Padaria do Josué.

Nessa época, o sistema era quase delivery. Padeiros percorriam as ruas centrais com cestos cheios de  manhã cedo e à tarde. O Sr. Antônio Padeiro, um homem moreno baixinho e íntegro, morava perto de nossa casa e tinha a freguesia certa na Rua Major Agostinho. “Padeiro” era assim que ele anunciava a sua chegada às duas da tarde. Assim também fazia o Sr. Batata, homem comprido, pernas longas e passos infalsos que passava cedinho e o Sr. Joaquim , de pele branca rosada, mais conhecido como português.

Falar da Padaria Luzitana vem à tona boas lembranças. As vitrines recheadas com pães, bolos mole, de batata, confeitados, maria maluca, suspiro e outros doces que davam água na boca. Outra memorável recordação era  esperar pelo pão da primeira fornalha nas madrugadas, quando encerravam os grandes bailes de carnaval do Maranguape Clube. Atire a primeira pedra quem da geração passada não viveu essa emoção?

Com o desaparecimento do Sr.Josué, a padaria passou a ser administrada pela filha Zilô e mais tarde pelo neto André , que manteve as portas abertas ao público até as 23:45h do dia 31 de dezembro de 2006”. Em breve , o prédio da Padaria Luzitana, tombado pelo Patrimônio Histórico, Cultural e Turístico do Município, Lei nº 1754/2003 de 16 de dezembro de 2003,  será reaberto como ponto comercial. No momento passa por reforma, obedecendo às normas de preservação. Pertence atualmente à Rede Macavi.

E quando as portas do  prédio se abrirem, a única certeza que temos é que não veremos mais as Vitrines Doces, a Balança Filizola, os Cestos de Pão, as Prateleiras de Biscoitos, as Roscas de Goma e de Pão. #tbtpadarialuzitana.

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Foi tudo o que consegui garimparrrrrr.

 

Fonte:

Entrevista com familiares Theóphilo Teixeira,  Selma Mesquita, Lúcia Mesquita

Entrevista com André(último administrador)

Serviço de busca Cartório Paula Costa – Colaboração Fátima façanha

 

 

4 comentários sobre “Padaria Luzitana : a gostosa lembrança do século passado

  1. Olá Cleneide, quero parabenizar-lhe pelo belíssimo trabalho de documentar a história da nossa cidade. A imagem da antiga padaria lusitana, me remeteu a um tempo em que eu como vendedor de jornais, tinha como cliente o Sr.André e D.Ziló, sua mãe. No início mesmo das manhãs de domingo, por alguns anos, eu quando vinha entregar o jornal, a padaria ainda fechada, o Sr. André pedia-me que o ajudasse a abrir as muitas portas da padaria. Pulava eu o balcão e com um molho de chaves abria uma por uma aquelas portas grandes e Maranguape ainda despertando, ouvia o roncar das portas ao abrir e sentia o cheiro do pão tão gostoso dali. O Sr.André, grato, me retribuía o favor com um delicioso pedaço de bolo de minha escolha. Era sempre bom estar ali. Por vezes lembro da boca de radiadora que instalada na Igreja Matriz, algumas vezes ouvi tocar dobrados no amanhecer da cidade. Que lembranças. No inverno, tudo era mais difícil, e eu como vendedor de jornais não falhava na entrega que mesmo chovendo, chegava sequinho na mão do cliente. Por vezes esperei a chuva passar naqueles recuos de portas fechadas da padaria. O dia raiava e eu me apreçava. Ô minha Maranguape de antigamente, por que você se foi? Queria muito você e aquele tempo de volta.

    Obrigado pelas lindas lembranças minha amiga.

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  2. BEM, MEU NOME É FERNANDO SALES, CHEGUEI NESSA BELÍSSIMA CIDADE, CHAMADA MARANGUAPE, EM MAIO DE 1981, ONDE FIZ PARTE DA 2ª TURMA DE POLICIAIS CIVIS, QUE ALI CHEGOU PARA PRESTAR SERVIÇO AQUELA POPULAÇÃO.

    MÊS SEGUINTE AO VISITAR OS COMERCIANTES, ME DEPAREI COM UMA JOVEM MUITO BONITA QUE DE LOGO FIQUEI INTERESSADO, NÃO DUROU MUITO E LOGO NO MÊS DE SETEMBRO, MÊS DAS FESTAS DA PADROEIRA “NOSSA SENHORA DA PENHA”, DAQUELE MESMO ANO, CRIEI CORAGEM E ME APROXIMEI DESTA JOVEM E COMEÇAMOS ALI UM NAMORICO. NOME DESTA JOVEM “VALDÍVEA” PARA OS ÍNTIMOS “LULY”, O AVÔ DELA, SENHOR “ANTONIO MOREIRA” MORAVA POR TRÁS DESSA LINDA EDIFICAÇÃO, QUE VOCÊ RETRATA TÃO BEM, NA RUA SINFRÔNIO NASCIMENTO,18. VISITEI MUITO À TÃO FALADA PADARIA, NA GESTÃO DE DONA “ZILÔ” E POSTERIORMENTE FIQUEI AMIGO, ATÉ HOJE, DE SEU FILHO “ANDRÉ.
    TINHA TAMBÉM, UM FUNCIONÁRIO MUITO ANTIGO LÁ, MAS NÃO RECORDO O SEU NOME AGORA, MAS ERA UM EXCELENTE FUNCIONÁRIO, NOS ATENDIA COM MUITA GENTILEZA E PRESTEZA. SIM, LÁ DEGUSTEI COISAS MARAVILHOSAS E DELICIOSAS. QUANTAS SAUDADES NOS DEIXOU O COMÉRCIO EM SI, E SUA PROPRIETÁRIA, DONA “ZILÔ”. BONS TEMPOS AQUELES QUE NÃO VOLTARÃO MAIS. AINDA BEM QUE EXISTE UM ÓRGÃO CHAMADO DE PATRIMÔNIO HISTÓRICO E TURÍSTICO DO MUNICÍPIO DE MARANGUAPE, PARA PELO MENOS, PRESERVAR A EDIFICAÇÃO, OU SEJA, O HISTÓRICO PRÉDIO.

    SÓ PARA ACRESCENTAR E ILUSTRAR MAIS A CONVERSA, NA OUTRA ESQUINA EXISTIA UM OUTRO COMERCIO TAMBÉM MUITO FREQUENTADO, ERA O BAR DO SINFRÔNIO, ONDE EXISTIAM ALI, ÀS SINUCAS GRANDES, TIPO “BILHAR”.

    BEM, QUANTO A JOVEM QUE AQUI NARREI, 4 ANOS DEPOIS DESTE ENCONTRO E INÍCIO DE UM NAMORICO, ELA TORNO-SE MINHA ESPOSA E NA “MINHA” CIDADE MARANGUAPE TIVEMOS 2 LINDOS FILHO E O TERCEIRO JÁ NASCEU EM FORTALEZA, MINHA CIDADE NATAL, ESTES LINDOS FILHOS, HOJE, JÁ ALGUM TEMPO SÃO ADVOGADOS.

    FERNANDO SALES

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  3. Que bom sra.vc me fez relembrar essa pouca dourada tão bom,conheci algumas dessas pessoas que vc postou nesse seu comentário tão maravilhoso,e também fis parte dos finais das festas dançantes no Maranguape club quando sairmos para comprar pao e leite gelado para amenizar a ressaca da festa.
    Lembro também quando na hora do intervalo da festa a turma saia la pro bar tabajara tomar a quele delicioso caldo servido pelos GRANDE garçoes da época valderi,peguerre,noe,ze simao,castanha muitos outros que falha a memoria.

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